Finalmente seu bebê de seis meses vai começar a comer, além de mamar. Um momento especial, gostoso e repleto de ansiedades. Afinal de contas, não será apenas a mãe quem poderá dar de comer para o bebê: avós e avôs, o papai, tias e a madrinha finalmente poderão participar da alimentação do nenê. E quanta expectativa para as primeiras colheradinhas, não?

E a orientação que muitas mães recebem, seja do próprio pediatra, da família ou até mesmo da vizinha, acaba sendo repleta de regras e tabus, tais como: “não dê de mamar na hora da refeição, se não o bebê não vai querer comer. Depois de comer, não pode dar de mamar, pois o leite interfere na absorção dos nutrientes!”. Quanto mito da alimentação infantil!

Está feito o caos. O bebê chora pedindo peito, a mãe acha não pode dar porque afinal de contas é a hora da frutinha… O bebê cospe a maior parte do que come, e está com fome, quer o peito que é o único alimento que conheceu durante a sua vida inteira.

E é assim que uma experiência que é para ser divertida e prazerosa começa carregada de tensão, ansiedade e frustração!

Então pretendo aqui passar algumas explicações práticas, simples e totalmente fundamentadas cientificamente para ajudar na introdução da alimentação complementar do seu filho(a):

Em primeiro lugar, o leite materno é o alimento mais perfeito que existe. Nutre o bebê muito mais do que a frutinha ou o legume cozidinho. Se o bebê come muita fruta ou legume e não mama, ele vai desnutrir.

Além disso, se a mãe começa a pular as mamadas substituindo-as pelas frutas ou pela papinha do almoço, a produção de leite materno vai despencar. Então, a regra número 1 é: na introdução da alimentação complementar, não pule as mamadas. Ofereça o peito ao bebê em todas as refeições.

Assim como no início da amamentação logo no pós-parto, a sua produção de leite terá que se adaptar às novas necessidades (demandas) do bebê. Haverá ajustes na sua produção de leite quando o bebê estiver consumindo parte dos nutrientes que necessita pelos alimentos, e não apenas pelo leite materno.

Muitas mães acabam desmamando precocemente seus bebês por pular as mamadas logo no início da alimentação complementar. Esse ajuste na produção é um processo contínuo, mas especialmente nos 2 a 3 primeiros meses da introdução alimentar essa adaptação é mais intensa. Então, nessas primeiras semanas, não pule as mamadas.

Uma importante observação: para aquelas mamães que estarão ausentes na refeição do bebê, recomendo que ordenhe o leite materno pelo menos a cada 4 horas, para assegurar a produção de leite materno e também evitar problemas como o ingurgitamento mamário. Para mais informação sobre ordenha, armazenamento, congelamento e oferecimento de leite materno, entre em contato!

E o leite na hora da comida não interfere na absorção dos nutrientes? De fato, o cálcio presente no leite e derivados interfere na absorção de alguns nutrientes presentes nos grãos e vegetais, como o ferro. Mas isso vale apenas para o leite de vaca e derivados, não vale para o leite humano. A natureza é sábia!

Pode dar de mamar no peito antes, durante e depois da refeição que a nutrição do bebê vai muito bem, obrigado!

Apenas para aqueles bebês que tomam leite artificial, aí sim recomendo que esperemos de 1 a 2 horas após a refeição principal (almoço e jantar, que são as refeições que contém ferro) para oferecer o leite artificial.

Mas… Se eu der de mamar antes da refeição, o bebê não vai comer menos? Pode ser que sim ou não… Não sabemos! Porém, pode estar certa que se ele comer menos do que precisa nessa refeição, vai compensar o déficit seja mamando mais ou comendo mais na refeição seguinte. O fato é que se o bebê quiser mamar na hora da refeição e você insistir para que ele coma a comida e negue o peito, ele vai chorar bastante e é muito provável que recuse totalmente a refeição.

Por outro lado, se o bebê mamar, ele pode depois aceitar mais facilmente comer os outros alimentos. Lembre-se que cada dia é um dia, cada bebê é um bebê. Tem dias que o bebê aceitará atrasar a mamada e comer alimentos sólidos, e tem dias que não.

Por isso não há regra nesse ponto. Não mesmo! Observe bem seu bebê e respeite seus sinais de fome, saciedade, vontade de experimentar alimentos novos, seu estado de sono, humor, agitação… Tudo isso interfere enormemente na alimentação. Respeite sempre seu bebê.

E observe também o ambiente e a circunstancia. Por exemplo, nos dias de muito calor, é mais provável que o bebê peça para mamar com mais frequência, para se hidratar melhor… E aí, depois de mamar, pode ser que ele tope sim comer alimentos sólidos. Mas se você vier com um prato de comida e ele estiver com sede ou com saudades de você, pode estar certa que ele vai pedir para mamar e recusar boa parte da refeição sólida.

Uma última dúvida: o leite materno ainda nutre bem meu bebê com mais de 6 meses? Claro! E ainda tem todos os fatores de imunidade importantíssimos para a saúde dele. O único nutriente que acaba ficando um pouco em falta no leite materno depois dos seis meses de vida é o ferro. Por isso o Ministério da Saúde suplementa com ferro todas as crianças de 6 a 18 meses de idade, conforme as recomendações da Organização Mundial da Saúde. Mas vamos conversar sobre ferro e anemia nos dois primeiros anos de vida em outro momento.

Resumindo, as únicas regras que existem são:
• No início da alimentação complementar, não substitua as mamadas pela refeição. Ofereça o peito em todas as mamadas.
• Pode dar de mamar sempre o que o bebê pedir, mesmo que seja antes, durante ou após a refeição.

A alimentação complementar tem esse nome porque complementa o leite materno, e não o substitui. Ela geralmente vai dos 6 meses de vida até por volta dos dois anos de idade (até enquanto o bebê mamar. Recomendamos que seja pelo menos até os dois anos de idade, ou mais). Ou seja, a alimentação complementar dura bastante tempo para que todos possam se adaptar a essa nova fase.

Se você deseja mais informação sobre este ou outros assuntos ligados à nutrição, por favor entre em contato! Obrigada!