Meu filho não come! Como lidar com as recusas alimentares na infância?

Meu filho não come! Como lidar com as recusas alimentares na infância?

Quem já alimentou uma criança sabe do que estou falando. Se são bebês, fecham a boquinha, cospem, separam incrivelmente cada “micro pedaço” de couve na boca; se são crianças que sabem falar, expressam claramente sonoros “Não gosto!” na hora da comida. Separei aqui algumas dicas saudáveis para lidar com essas situações quase sempre angustiantes para todos.

Cada idade tem seu desafio alimentar. O bebê na introdução dos alimentos pode estranhar as mudanças do leite materno para comida, e assim atrasar por semanas o início da alimentação sólida. A criança que recém aprendeu a andar não quer mais sentar para papar. A criança que já come muitas guloseimas acaba achando que legume é alimento sem graça… E agora, nutri?

Eu realmente gosto muito de trabalhar com crianças bem novinhas, logo aos 6 meses de idade ou até mesmo dentro da barriga da mãe, para promover a saúde, prevenir problemas nutricionais e formar bons hábitos alimentares para a vida inteira. É muito mais fácil quando já começamos bem essa relação com o alimento logo de cara.

Sabemos através de estudos científicos que crianças conseguem instintivamente seguir uma dieta saudável e balanceada (quantitativamente e qualitativamente) desde que lhes sejam oferecidos alimentos variados e saudáveis para escolher. Mas é muito rara uma criança (e até mesmo um adulto) que come absolutamente de tudo. É normal termos preferências alimentares e o prazer ao comer é fundamental na relação saudável com a comida. Nosso objetivo em mente é criar uma criança que aceita um amplo repertório de alimentos de todas as cores, que seja curiosa em provar alimentos novos e que ache que os alimentos naturais são sim gostosos.

Lembremos que crianças aprendem através da brincadeira, do exemplo e da imitação. Assim também é com a alimentação! Incentivemos então as refeições em família. Vamos tentar fazer mais vezes refeições com a família reunida, nas quais alimentos naturais e gostosos são consumidos por todos. Comer é um encontro social e a criança aprende através do exemplo dos pais e dos irmãos maiores à mesa.

Do ponto de vista emocional, na hora da refeição a criança deve estar bem-humorada e disposta. Não pode estar cansada, com sono, estressada ou irritada. Boa dica é dedicar um pouco de atenção à criança nos minutos anteriores ao momento de sentar-se para comer. E fazer com que esse encontro à mesa seja calmo e agradável para todos. Tentem não discutir os problemas, as obrigações e os assuntos mais polêmicos na hora da comida.

Do ponto de vista pedagógico, depois de muito estudar montei esse esquema de tripé para promover a educação nutricional. Acredito que educar para formar bons hábitos alimentares e o paladar saudável desde a infância precisa de três espectros de ações consistentes por parte dos pais, cuidadores e educadores: 1) familiaridade com o alimento; 2) reforço positivo para o comportamento desejado; 3) leveza emocional diante da recusa alimentar.

 Tripé para promover a educação nutricional

1) A familiaridade com o alimento é determinante no seu consumo. Estranhamos comida nova, salvo raras pessoas que são naturalmente curiosas. Conhecer, tocar, amassar, cheirar, saber de onde vem, como cresce, onde se compra, como se prepara… cozinhar receitas gostosas e bonitas que inclua justo aquele alimento que a criança vem recusando… ver outras pessoas comendo aquele alimento com prazer… preparar o mesmo alimento de diferentes formas, texturas… fruteiras coloridas e bonitas à vista (e ao alcance) da criança… pratos bem coloridos e divertidos, “desenhando” com os alimentos… histórias sobre e com alimentos… e por aí vai.

2) Em casos de recusa de alimentos, o mais importante é reagir com “leveza emocional” diante da circunstância. Ou seja, com a mesma naturalidade com que a criança recusa uma brincadeira. E seguir oferecendo os alimentos recusados em outros momentos e de diferentes formas (diferentes receitas e formas de apresentar), mesmo que a criança recuse inúmeras vezes.  Oferecer não é insistir, distrair, forçar ou obrigar a criança a comer. Nunca obrigue seu filho a comer, jamais, por nenhum método e em nenhuma circunstancia. Comparações, recompensas, castigos, “chantagens” emocionais com alimentos e com os comportamentos alimentares da criança são totalmente desaconselháveis por interferir negativamente na formação de bons hábitos alimentares e de relações saudáveis com a comida. Discursos ou explicações racionais sobre a salubridade de determinado alimento ou grupo alimentar também são desaconselháveis, especialmente para a criança com menos de 6 anos. Histórias lúdicas com o alimento são sim bem vindas.

3) O reforço positivo funciona  como estímulo para uma refeição feliz com a criança! Sorrisos, elogios, comentários positivos e com orgulho sobre a hora da refeição valem ouro. Mesmo pequenos progressos merecem um incentivo, como por exemplo a autonomia em segurar uma colher, quando a criança tem coragem de experimentar um alimento novo, ainda que ela acabe não gostando dele. Fotos ou filminhos do seu filho comendo alimentos nutritivos também ajudam na construção de comportamentos saudáveis. Só não vale presentes ou prêmios como recompensa quando a criança comer, pois essa estratégia pode desencadear muitos problemas futuros. Evitamos elogios sobre o quê comer e sim reforçamos o bom comportamento à mesa. Não queremos crianças que acreditam que a hora da refeição é um espetáculo para os pais.

Por fim, sabemos que o consumo de açúcar, frituras, sucos artificiais ou em caixinha, refrigerantes, balas, salgadinhos, biscoitos, guloseimas e outros produtos com grandes quantidades de açúcar, gordura, sal e corantes interferem enormemente na formação do paladar. Estes alimentos devem permanecer escondidos ou, melhor ainda, nem fazer parte do armário da cozinha de casa. Para crianças com menos de 2 anos, não há quantidade segura desses produtos para ser indicada. Para crianças com mais de 2 anos, muita moderação no consumo desses produtos é recomendada. Não oferecer com frequência e, caso ofereça, limitar a quantidade que a criança vá consumir. Comida natural é sempre mais nutritiva.

Fica abaixo um resumo com 7 dicas para ajudar na alimentação e nutrição infantil:

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