O que aprendi com o Diabetes Gestacional?

O que aprendi com o Diabetes Gestacional?

Lindo relato que recebi de uma querida paciente durante o acompanhamento do seu diabetes gestacional (M.L. 37 anos). Gratidão a todas que confiam ao meu trabalho seus tesouros mais preciosos!

“Quando cheguei ao sétimo mês de gestação, o último trimestre, aquele tão esperado, junto com ele veio o diagnóstico da Diabetes Gestacional.

No primeiro momento fiquei em choque, um tanto incrédula, depois veio o medo de tudo que pode acontecer (nessa hora ser da área da saúde e já ter trabalhado justamente com gestantes diabéticas, não sei se ajuda ou dificulta o processo, talvez as duas coisas) e claro veio a culpa. 

Ah a culpa, aquele sentimento que dói na alma, que faz a gente se machucar. Sentia-me culpada por ter engravidado acima do meu peso, após ter desmamado meu primeiro filho engordei 11kg ao longo de um ano. Me culpava por ter engordado mais que o esperado no primeiro trimestre da gravidez. Nesse momento associava a Diabetes apenas com o peso.

Depois veio a tristeza, chorei, chorei, chorei. A sensação de que minha filha poderia estar em risco dentro de mim, doeu fundo. Saber que o fato de eu ter tido diabetes gestacional aumentava o risco dela desenvolver diabetes ao longo da primeira infância e adolescência foi algo bastante doloroso, ainda é.

Mas depois veio o cuidado e apoio do marido, da família, das amigas e dos profissionais que me acompanhavam. 

Eu já vinha acompanhando com uma Nutricionista, a Rachel, desde o começo da gravidez por conta do ganho de peso e do quadro de anemia, em decorrência de uma doença hematológica chamada esferocitose hereditária, sim mais uma doença hereditária. 

Após a consulta com a Rachel depois do diagnóstico, sai mais aliviada, além de excelente profissional, ela é muito gentil. Ao me explicar sobre a Diabetes Gestacional ela me disse “os bebês precisam de glicose e algumas mães mais generosas produzem mais glicose do que o necessário”.

Meu Obstetra também me tranquilizou bastante, ajudou a tirar o peso da culpa, pois o componente genético nesses casos é mais importante do que os quilos que ganhei.

Nesse momento o cuidado com a alimentação passou a ser imprescindível, assim como o acompanhamento e orientações da Rachel.

Além dos cuidados com a alimentação e atividade física, a Diabetes requer controle glicêmico, no meu caso quatro medições diárias. As primeiras foram mais complicadas, várias picadas, várias tiras teste e lancetas pra conseguir uma medição. 

Com o tempo me acostumei, as picadas continuaram incômodas, a logística de pensar a hora de comer para fazer o teste uma hora depois da refeição foi um desafio em alguns momentos. 

A carga mental de pensar o todo tempo no que poderia comer, no horário, no diário alimentar, nas medições, nos registros, com o tempo se tornaram, para mim, mais difíceis  do que as restrições da dieta em si.

Foi possível controlar a Diabetes apenas com a alimentação e atividade física, eu fazia pilates duas vezes na semana e caminhadas quando possível. O quadro ficou muito bem controlado. A maioria das medições era abaixo do valor de controle. O que trouxe um grande alívio.

E o que eu aprendi com tudo isso? 

Aprendi a comer melhor, mudei diversos hábitos alimentares, aprendi que poderia continuar comendo certos alimentos que eu gostava muito, com moderação e com uma seleção mais rigorosa (por exemplo, se quero comer um doce, que seja um doce bom, de qualidade, bem feito). 

Aprendi que o problema não é apenas o que comemos, mas o que deixamos de comer. Eu, por exemplo, detestava salada de folhas, comia uma vez na semana, com intuito de estimular meu filho a comer também. Grão integral, só comia sob tortura. Meu café da manhã, quando fazia essa refeição, era pobre em nutrientes e variedades, comia pão de farinha branca com manteiga (e eu nem sou fã de manteiga) com um copo de suco. Quando a Rachel me perguntou por que eu comia pão com manteiga, se eu sequer gostava de manteiga, não sabia nem o que responder, comia porque era prático, porque era o habitual.

Aqui acho importante explicar que durante minha infância, adolescência e início da fase adulta, eu tive uma alimentação bastante restrita. 

Eu fui uma crianças muito seletiva, minha avó, que era responsável por grande parte da minha alimentação, fazia o que eu queria. Teve fase que meu café da manhã incluía refrigerante. No almoço eu comia arroz, feijão, batata frita, a casca do bife à milanesa ou salsicha! Por muitos anos meu jantar foi pão francês com requeijão e algum embutido.

Quando meu filho nasceu e, principalmente,  iniciou a introdução alimentar muita coisa mudou. Esse foi meu primeiro contado com a Rachel, busquei o atendimento dela para me orientar. Eu havia lido tanto coisa, tantos métodos, que fiquei perdida. Passei a cozinhar diariamente, passei a fazer refeições mais saudáveis. Mas fora de casa ou longe dos olhos do meu filho, mantinha muitos hábitos ruins. Pra vocês terem uma idéia, eu sou daquelas pessoa que ama lanche do Mc Donald’s, sim aquela porcaria, eu adoro, adoro o sabor e cheiro de gordura trans daquele lugar.

Mas com a Diabetes Gestacional, com a minha saúde e, principalmente, e a saúde da minha filha em risco, não tinha mais espaço para essas “escapas às escondidas”. 

A mudança foi radical e foi muito boa pra mim, passei a me sentir melhor, mais disposta, minha anemia melhorou consideravelmente  e no final da gravidez, mesmo com a Diabetes, eu estava muito mais saudável do que antes de engravidar. Aprendi a gostar de certos alimentos que comia por “obrigação moral”, aprendi a selecionar melhor o que eu como, aprendi que mesmo gostando de certos alimentos (tipo fast food) meu corpo merece coisa melhor. 

Eu desejo, óbvio, que a Diabetes vá embora com o final da gravidez, mas desejo ficar com o aprendizado que ela deixou: é possível comer bem, é possível mudar hábitos alimentares, é possível inserir alimentos mais saudáveis e a refeição continuar gostosa. E é possível abrir mão de certos alimentos em prol da nossa saúde. 

Desde que me tornei mãe muita coisa mudou na minha vida, a alimentação foi uma delas, desejo que meus filhos tenham hábitos saudáveis, desejo que eles comam alimentos saudáveis por gosto, não por obrigação, que não seja um esforço como ainda é pra mim. Os filhos realmente são capazes de despertar o melhor que temos dentro nós.”

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