Hoje uma querida paciente que acompanhei durante a gestação me mandou um email angustiado perguntando se eu teria alguma dica nutricional para ela produzir mais leite, porque a bebê recém-nascida estava chorando muito à noite e ela tinha começado a dar um complemento de leite artificial.
Parei tudo o que estava fazendo! E resolvi escrever não só para ela mas para você que é mãe recente, porque essa é a realidade de muitas mães que atendo, e de amigas e até mesmo de profissionais da saúde quando se tornam mães, vivendo uma angústia gigante ao sentir que não podem ou não são capazes de amamentar seus bebês.
O que comer para produzir mais leite?
Bem… O ideal é que você produza exatamente o quanto de leite seu bebê precisa, nem mais, nem menos. Mais leite te daria um grave problema, leite empedrado, riscos de mastite, febre, infecção, etc. Menos leite certamente o bebê vai ter prejuízo no ganho de peso e se desnutrir.
E é por isso que gostaria de ressaltar aqui a importância do ganho de peso, e não do choro do bebê, para ter certeza que realmente algum complemento ao leite materno é necessário. Isso porque o único parâmetro confiável para avaliação da produção de leite materno é o ganho de peso do bebê. Não é o choro, a irritabilidade do bebê, o quanto de leite você extrai apertando ou ordenhando o seu peito, etc. É apenas o ganho de peso do bebê.
O problema é que muitas vezes os pediatras não sabem interpretar corretamente o ganho de peso do bebê e logo já recomendam um complemento. E como o complemento geralmente é dado em mamadeira, e o bebê acaba se acostumando a “mamar” sem fazer força com o complemento, ele logo vai perdendo o interesse pelo peito. E assim o ciclo se completa com um desmame precoce aos 2-3 meses de idade. Não estou dizendo que seja esse o seu caso, mas faço questão de chamar sua atenção porque é isso que vemos com frequência na prática clínica.
As curvas de crescimento para o correto acompanhamento do ganho de peso do seu filho devem ser as novas curvas da OMS (elaboradas a partir de dados epidemiológicos multicêntricos – em vários países do mundo – e com bebês amamentados no peito) e não com as curvas do NCHS (elaboradas a partir de bebês norte-americanos alimentados em sua maioria com fórmulas infantis). Parece um detalhe, mas faz toda a diferença!
O bebê no peito ganha peso mais lentamente, mas pode crescer mais rápido em comprimento e é muito mais saudável que o bebê que toma leite artificial.
Pediatras desatualizados comparam o ganho de peso de um bebê de peito com a curva NCHS e logo “determinam” que o bebê está “baixo peso” e introduzem o complemento. Uma baita confusão. Bebê baixo peso é aquele que está a menos dois (-2) desvios-padrão da curva normal da OMS (e não do NCHS). Você pode ver as curvas em http://www.who.int/childgrowth/en/ Se seu bebê está a -1,5 ou -1 desvios-padrão da média, não é recomendado o complemento. E sim o acompanhamento do crescimento, como todos os bebês.
Falo tudo isso para ajudar a você entender e até mesmo relaxar um pouco, porque a pior coisa para a produção de leite materno é a tensão ou a preocupação, especialmente a preocupação de “não conseguir” nutrir seu bebê.
O melhor e maior estímulo para a produção de leite é a sucção do bebê ou a ordenha do leite materno.
E para a secreção de leite é o relaxamento. Relaxar…
Ou seja:
Coloque o bebê no peito sempre e com frequência. Respeite a livre demanda. Busque ordenhar o seu leite após as mamadas (você tem bomba? Você pode fazer a ordenha manual ou até mesmo alugar uma bomba… e guardar o leite materno para oferecer em vez do complemento). Essa ordenha já vai estimular sua produção.
E realmente relaxar libera hormônios como a oxitocina que é responsável por fazer o leite sair do peito… Sei bem que não é muito fácil relaxar com um recém-nascido em casa, mas dentro do possível respirar calmamente de olhos fechados, meditar, escutar uma música suave que você goste, andar ao ar livre, e até mesmo sexo (sei que não dá nenhuma vontade agora no pós-parto, mas o orgasmo ajuda também), aconchego, estar cercada de pessoas queridas sem julgamentos ou pressões, tudo isso ajuda muito…
Do ponto de vista nutricional, você pode ajudar na amamentação tomando líquidos em quantidade suficiente (cerca de 2,5 a 3L por dia) respeitando sempre seus sinais de sede (excesso de líquidos é prejudicial) e também de fome; passar fome atrapalha enormemente a amamentação, e você deve buscar comer a cada 2 a 3 horas alimentos saudáveis e naturais; pode sim comer feijão, arroz, brócolis, azeite de oliva, frutas em geral… Ao contrário do que a crença popular diz, feijão, folhas etc não causam gases no bebê. Não os elimine da sua dieta logo de cara. Os casos de cólicas, intolerância alimentar e alergias do recém-nascido estão muito mais ligados a alimentos alergênicos (frutos do mar, leite de vaca, ovos, amendoim, etc – dependendo da genética da família) do que ao feijão propriamente dito. Mas independente do que eu diga, sempre observe seu bebê e as reações dele. Converse com um especialista.
Evite bebidas alcoólicas, mesmo a crença dizendo que cerveja preta aumenta a produção de leite (na verdade ela até aumenta mesmo, cientificamente comprovado, logo na mamada seguinte; mas depois a produção de leite volta a reduzir e acaba dando na mesma; oooops, na mesma não dá, porque álcool para um recém-nascido é extremamente tóxico). Não beba bebidas alcoólicas de nenhum tipo.
E você pode vir com seu bebê para uma consulta para conversamos mais se você precisar, será um prazer!
Boas mamadas para vocês!