A alimentação escolar tem como objetivo contribuir para o crescimento e o desenvolvimento infantil, a aprendizagem e o rendimento escolar dos estudantes e a formação de hábitos alimentares saudáveis, tanto da criança como da família.
Um grande passo foi consolidado na Alimentação Escolar do Brasil com a Lei nº 11.947, de 16/6/2009. Essa lei define que 30% do orçamento do Programa de Alimentação Escolar seja investido na compra direta de produtos da agricultura familiar. Essa medida estimula o desenvolvimento econômico e sustentável das comunidades e incentiva a alimentação menos industrializada e mais saudável das crianças. Assim, contribui para a inclusão de mais alimentos naturais e nutritivos na vida das crianças e suas famílias (especialmente frutas, verduras, legumes e alimentos frescos) e na redução no consumo de alimentos altamente processados, que contém excesso de açúcares, sal, gorduras e aditivos químicos.
Infelizmente ainda não são todas as instituições de ensino que estão acompanhando todos esses progressos na alimentação infantil. Encontramos com frequência escolas que disponibilizam e oferecem às crianças alimentos altamente processados, tais como bolachas, biscoitos, sucos artificiais, bebidas adoçadas, salgadinhos e guloseimas dentro do ambiente escolar. Outra forma de permitir a inadequação da alimentação infantil é a omissão na orientação às famílias sobre o conteúdo adequado das lancheiras das crianças.
A disponibilização de alimentos altamente processados às crianças prejudica tanto a nutrição infantil como a formação do paladar e de hábitos saudáveis na criança, além de ensinar erroneamente às crianças como devemos nutrir nossos corpos. O prejuízo é tanto para a criança como individuo, como para a sua família que replica os conhecimentos e hábitos adquiridos dentro da instituição de ensino, e também para toda a sociedade que aceita como “normal” ações prejudiciais para a infância.
Há muitas razões para evitar o consumo de alimentos altamente processados (também chamados de ultraprocessados). Os alimentos altamente processados são nutricionalmente desbalanceados, favorecem o consumo excessivo de calorias e substituem alimentos frescos, in natura. Afetam negativamente a saúde e nutrição infantil. As formas de produção, distribuição, comercialização e consumo dos alimentos ultraprocessados afetam de modo desfavorável a cultura, a vida social e o meio ambiente.
De acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira, a constituição da autonomia para escolhas mais saudáveis no campo da alimentação depende do próprio indivíduo, mas também do ambiente onde ele vive. Ou seja, depende da capacidade individual de fazer escolhas de governar e produzir a própria vida e também de condições externas ao sujeito, incluindo a forma de organização da sociedade e suas leis, os valores culturais e o acesso à educação e a serviços de saúde. A instituição de ensino é pilar fundamental na construção dessa autonomia dentro da nossa sociedade.
No Brasil, as pesquisas confirmam a epidemia de obesidade infantil. Em vinte anos, as prevalências de obesidade em crianças entre 5 a 9 anos foram multiplicadas por quatro entre os meninos (4,1% para 16,6%) e por, praticamente, cinco entre as meninas (2,4% para 11,8%). Nos adolescentes, cerca de 20% apresenta excesso de peso. A alimentação das nossas crianças precisa ser readequada imediatamente se quisermos reverter esse quadro, pensando tanto na geração atual como nas seguintes.
A alimentação adequada e saudável é um direito humano básico. Ela envolve a garantia ao acesso permanente e regular, de forma socialmente justa, a uma prática alimentar adequada aos aspectos biológicos e sociais do indivíduo e que deve estar em acordo com as necessidades alimentares especiais; ser referenciada pela cultura alimentar e pelas dimensões de gênero, raça e etnia; acessível do ponto de vista físico e financeiro; harmônica em quantidade e qualidade, atendendo aos princípios da variedade, equilíbrio, moderação e prazer; e baseada em práticas produtivas adequadas e sustentáveis.
Tenhamos sempre em mente o nosso papel, seja como educadores, como profissionais da saúde, como pais ou mães e sobretudo como responsáveis sobre às nossas crianças, cujo direito à alimentação adequada e saudável é um direito básico.
Diversas possibilidades criativas podem estimular o consumo de alimentos naturais e diminuir o consumo de alimentos altamente processados das nossas crianças. Como podemos melhorar? Que tal fazer uma lista das suas ideias? Busque informação, converse com profissionais da área, assista alguns documentários e certamente suas ideias ganharão vida. Acompanho inúmeros casos de sucesso e permaneço à disposição para ajudar nesse processo.